quarta-feira, 13 de junho de 2012

A Lição da Dinamarca.

 Durante a Primeira Guerra Mundial, quando o alimento escasseou e ainda foi imposto um bloqueio pela Alemanha, o golpe foi muito grande para a Dinamarca. A agricultura – uma das mais avançadas e industrializadas do continente – era a principal fonte de recursos do país.


Mikkel Hindhede, filho de camponês, havia-se formado em medicina por volta de 1880 na Universidade de Copenhague. Exerceu suas funções de diretor do Hospital de Skanderborg de maneira estranha – raramente receitando remédios e só de vez em quando fazendo cirurgias. Muitos de seus colegas ficavam irritados com sua conduta. As contas de medicamentos eram 75% menores do que em qualquer outro lugar e, apesar de nunca fazer operações de apendicite, em 17 anos nunca perdeu um paciente devido a esse problema.


Quando Mikkel ouviu na faculdade, nas aulas de fisiologia que as pessoas precisavam de, pelo menos 118 gramas de proteína por dia, passou a comer mais carne, pois sua criação havia sido basicamente de produtos vegetais. Estranhamente passou a sentir-se mais fraco. Então voltou a reduzir a carne e, ainda diretor do Hospital de Skanderborg, fez sem alarde uma experiência ecuidem si próprio para verificar com que quantidade mínima de proteínas uma pessoa se sente bem.Como fazia quando era jovem, comia apenas produtos da estação.


A quantidade diária de proteínas era aproximadamente 25 gramas – menos de ¼ daquilo que as autoridades médicas aconselhavam. Observava a si mesmo com muita curiosidade, mas semanas e meses se passaram e ele sentia-se muito bem, com muita vontade de trabalhar e em forma. Sua família aderiu a mesma dieta.


Hindhede foi nomeado presidente da comissão de orçamento da Dinamarca. Elaborou um plano para evitar a fome que logo iria assolar a Dinamarca. Oitenta por cento dos porcos foram vendidos por altos preços para a Alemanha e para a Grã-Bretanha, onde o povo e os especialistas ainda estavam convencidos da necessidade de altas doses de proteína. O número de vacas leiteiras foi reduzido a 1/3, a produção de cerveja foi reduzida pela metade e a produção de bebidas destiladas foi totalmente abolida para reservar as batatas e os cereais para o consumo humano.


Hindhede introduziu um pão integral redondo e chato. A produção de verdura e frutas foi incentivada e a boa vontade do povo foi conquistada com uma pequena publicação. A quantidade semanal de manteiga foi reduzida para ½ quilo e o consumo de carne foi reduzido para 40 g por dia; porém, não houve mercado negro nem insatisfação. É preciso salientar que os ricos podiam facilmente obter mais manteiga, mais carne, mais pão branco e mais pãezinho s, muito mais caros. Entretanto, batatas, pão integral, cevada e leite estavam disponíveis para todos a preços baixos. Todo o farelo que antes servia de ração para os porcos foi destinado à alimentação da população. No mundo inteiro ainda se acreditava que o farelo era indigesto. Entretanto, já naquela época, estudos provaram que isso é um engano: o farelo pode ser tão bem digerido como a farinha branca, apenas mais devagar, o que representa uma vantagem. Os estudos também mostraram que o farelo contém a maioria dos minerais, quase todas as vitaminas, bem como as proteínas valiosas do grão.


O mais surpreendente ocorreu inesperadamente. Hindhede afastou a epidemia de gripe que, no final da Primeira Guerra Mundial, assolou os países da Europa, matando, no ano de 1918, mais gente do que a guerra. O plano de nutrição não só afastou a fome, a alta dos preços e os distúrbios sociais mas também a gripe. A Dinamarca foi o único pa ís do continente no qual os coeficientes de mortalidade permaneceram em níveis normais. A única explicação possível para este fenômeno – que parece um milagre - é que o plano mobilizou a defesa imunológica da população através de uma alimentação reduzida mas suficiente, rica em elementos vitais, pobre em proteína animal, açúcar e cereais beneficiados. Isso provocou uma reação saudável.


Durante a Segunda Guerra Mundial, Bircher-Benner conseguiu alertar a Comissão Suíça de Alimentação, que pôs em pratica na Suíça um programa de racionamento (1939-1946) semelhante ao dinamarquês, obtendo muito sucesso apesar da grande resistência encontrada.


Estes dois casos de sucesso foram abafados e hoje está totalmente esquecido. Nem as enciclopédias, nem os livros técnicos escrevem uma só linha a respeito de Hindhede, de suas pesquisas e de seu trabalho


Baseada em estudos estatísticos a revista médica i nglesa Lancet de fevereiro de 1938 confirmou a diminuição da mortalidade na Dinamarca em 34% nos anos de guerra como conseqüência do programa de alimentação de Hindhede. Confirmou também que não houve aumento dos coeficientes de mortalidade durante a epidemia de gripe de 1918.


Quantos benefícios poderíamos tirar para o mundo se essa obra não tivesse sido relegada ao esquecimento!

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